Agostinho Santos
Atrás da cortina da loucura

Nunca sabemos o que se esconde atrás da cortina da loucura, o que desvela, o que encobre, suas transparências e opacidades. Vivemos nesse limite, entre a dissonância cognitiva como distúrbio e a dissonância cognitiva como única maneira de habitar o mundo, de entendê-lo em mapas de sentido que permitam narrá-lo, não apenas com o propósito de torná-lo inteligível, mas – sobretudo – de torná-lo suportável.
Atrás da cortina da loucura pode parecer um livro, porém [antes e depois de quaisquer formatos ou materiais que o definem como objeto] é um encontro, um encontro desmesurado, íntimo, violento, humaníssimo… em que a arte de Agostinho Santos busca Frida Kahlo: busca o seu rosto, o seu corpo, esse corpo inteiro e mutilado, matéria policromática e polissémica; busca o seu universo compósito, fragmentos de lugares sempre tão dentro e tão longe, funduras e mistérios a que somos iniciados no simples gesto de folhear este livro.
Estas figurações de Frida Kahlo constituem o âmago da mistagogia da sua desfiguração.