Liberto Cruz Última colheita
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Vem deslizando breve um vento sossegado
Como de anémonas feito e trespassado,
Não da espada rude do tempo incerto,
Mas do bafo santo de sibila ou deus perdido.
Vem purificado percorrendo os campos
Onde dormem alheios os mortos assustados,
Os músculos tensos do ferro, os rostos brancos,
Pelo espanto da morte que é sempre nova.
Vem de longe, talvez do fundo dos mares
Onde as águas se acalmam e determinam
O concerto interno dos homens e das coisas
E a guerra e a morte e o leito abominam.
Não cuidemos de saber a sua origem
Nem, tão-pouco, o seu nome ou a sua cor.
Sabemos ser de paz o invisível rosto
Que, tão lento, nos chega em vã vertigem.
Por mim estendo este luando de acácias,
Todo tecido de lágrimas e experiência,
Seguro de que a paz virá deitar-se,
Autêntica , em paz e em essência.
1.ª ed.: agosto 2022
160 x 235 mm | 452 pp.
ISBN 978-989-53681-6-7
Poesia reunida
Edição e introdução: Carlos Nogueira
Apoio: Fundação Eng. António de Almeida
Imagem da capa: Jan Mankes, Bomenrij [1915]