Fernando de Castro Branco
Poesia [2011-2016]

19,08 

Da velha janela o largo traz-me o tempo
estranhamente ordenado. Posso medir
a minha vida pelo tronco da árvore mais alta
ou pelo desgaste das casas mais antigas.
Procuro ainda suster as últimas imagens
deste verão de setembro (escasso mês,
a transbordar de estações).

Um velho sustenta a sede na fonte do largo,
um cão vadio afeiçoa-se à terra quotidiana
que lhe serve de leito e de abrigo,
alguns pássaros cruzam o horizonte,
nómadas e inquietos. A tarde move-se
sem que eu dê por nada. Resumo

hoje o meu mundo a pouca coisa:
a sorte dos cães, a água dos velhos, algumas
árvores a medir as gerações, o voo incerto
das aves migratórias. E a esta janela
de onde escrevo setembro
ao correr da pena.

1.ª ed.: novembro 2021
150 x 210 mm | 244 pp.
ISBN 978-989-8029-86-7

Prefácio a Carta a mim mesmo: Luís Adriano Carlos
Posfácio a Desde Portugal: José Rui Teixeira
Imagem da capa: Vincent van Gogh, Perzikbomen in bloei [1889]

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