José Antonio Ramos Sucre nasceu no dia 9 de junho de 1890, em Cumaná, na Venezuela. Mudou-se para Caracas em 1910, onde conciliou como pôde distintas atividades: intérprete, tradutor, advogado, professor, diplomata… e poeta. A sua idiossincrasia e as circunstâncias da sua vida resultaram num poeta singular. Publicou três livros: La torre de Timón [1925], Las formas del fuego [1929] e El cielo de esmalte [1929]. Suicidou-se em Genebra, no dia 13 de junho de 1930.
Talvez sobre si mesmo reflita quando escreve: «Devo guardar-me de participar da alegria da terra aprazível e vigorosa; vestir um perpétuo traje de obscuridade». Talvez de si rememore, à sombra desse cipreste enigmático que domina o horizonte da sua infância. Talvez se comova ainda com «a beleza que resplandece nas esfinges», consciente de que algumas lhe recordam «as mulheres que poderia ter amado». Talvez viva ainda «entre um rumor de fúnebres latins» e «as sombrias cores que simbolizam a desolação da […] vida e que são próprias para lamentar o estrago irremediável do tempo». Talvez repita ainda, com a sua «desesperada voz de desterrado», a necessidade de esquecer, de emudecer. Talvez Ramos Sucre seja ainda esse estranho europeu que nasceu diante do Mar das Caraíbas, assolado por insónias e outros incuráveis males, com o persistente sentimento de que é um desterrado dentro da sua própria vida, que conserva ainda os seus «afetos de adolescente resignado e cabisbaixo», entre a «indelével melancolia» e o «rumor de um salmo sinistro».
José Rui Teixeira, «José Antonio Ramos Sucre, o poeta insone» [introdução].