Entre as tendências iberistas da Geração de 70 e da Renascença Portuguesa [com Antero e Pascoaes, seus respetivos pontífices] e o apostolado hispanista de Sardinha, a ibericidade de Pessoa e o anti-iberismo metropolita de Mário Saa, encontramos densos novelos sistémicos: [auto]psicografias e [auto]mitografias topológicas de um Portugal – ora distópico, ora eutópico – embalado pela melopeia que ressoa entre a memória turva da redondilha camoniana e a voz grave de Herculano.
O metropolismo de Mário Saa, à luz do hispanismo de António Sardinha e da ibericidade de Fernando Pessoa, permite-nos perceber que a intelligentsia portuguesa – da transição do século XIX para o século XX – estava atentíssima ao que se passava na Europa. Leu com acuidade os sinais dos tempos e – nesta disfórica periferia – previu as tendências das pesadas engrenagens da geopolítica europeia. Mais: percebeu que as nações peninsulares só recuperariam a sua importância civilizacional na Europa e na América-hispânica se agissem ibericamente, ou seja: com políticas comuns, sinergias económicas e diálogo intercultural, fosse por meio de uma aliança peninsular entre Portugal e Espanha [como defendeu Sardinha], de uma confederação das três repúblicas ibéricas [de acordo com a perspetiva de Pessoa], ou por meio de uma reorganização metropolita da Península [como propôs Saa].
Uma questão, fundamentalmente, os unia: um profundo desejo identitário de «reaportuguesar» Portugal desde a sua topologia ibérica.
Entre a ínsula e a península é um estudo escrito em 2018, no contexto do projeto «Iberismos e identidade cultural ibérica», desenvolvido no âmbito de uma parceria entre a Universidad Pontificia de Salamanca e Universidade Católica Portuguesa.
Para além de uma contextualização dos movimentos iberistas na transição do século XIX para o século XX, este estudo apresenta o metropolismo de Mário Saa à luz do hispanismo de António Sardinha e da ibericidade de Fernando Pessoa.