Com esta apoteose sem igual na poesia portuguesa, tal a ousadia da profanação e o seu poder de síntese, Valter Hugo Mãe encerra um díptico que de facto representa o ponto mais alto da sua poesia antes de se tornar o romancista consagrado que hoje conhecemos, em virtude de a sua personalidade literária ter uma alma de poeta que transpõe o poder da imagem para o discurso romanesco, fundindo acontecimento e encantamento no mesmo sopro vital do verbo, em juízos sintéticos, no sentido kantiano, que só raros escritores alcançam objectivar na prosa narrativa sem se perderem na estase do lirismo.
Luís Adriano Carlos, «Hysteron, o grotesco sublime» [prefácio].