Rui Nunes

Set 20, 2021 | Destaques

A escrita de Rui Nunes foi sempre uma urgência terminal, uma consciência de que o texto é um sintoma ansioso do suicida e talvez lhe justifique a respiração: «A escrita: o que resta de um suicídio não consumado». O texto é acontecimento controverso na visão de quem sabe que o único sentido é o da morte, ele é protesto. Em todos os livros pressentimos a fúria mas é agora, quando vem prometendo não publicar mais, que se acelera um confronto, uma espécie de palavra de despedida que é puro desprezo por tudo quanto pudesse parecer ficar edificado. A escrita, afinal, não podia salvar nada. Ela foi um engodo. E o único que sobra é a denúncia e o elogio ao silêncio, à mudez.

Valter Hugo Mãe, «Rui Nunes».
JL [ano XLI, n.º 1321], 19 maio – 1 jun. 2021, 31.

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